Enquanto faziam amor


Enquanto faziam amor
uma mulher loira de quarenta e cinco anos tomava sopa
em sua casa de praia, em Aracaju.

Os corpos imitavam o balançar da janela
ventos do verão,
e naquele instante um menino corria,
debaixo de chuva, no interior de Minas Gerais.

Eram um só, boca em boca
hálito único -
a mulher leva a colher aos lábios
e pára: uma lembrança antiga,
quando amou um rapaz, na adolescência.

Ofegos da mulher
o homem persegue o ápice -
o menino na chuva, desabalado
de bicicleta, sem medo de coisa alguma.

O vento e a janela, pra lá e pra cá.
A mulher loira agora se vê no fusca do namorado, quando ele ameaçara arremessar-se no cais, com carro e tudo, caso ela o deixasse, que a vida não mais teria sentido.

O amor intenso
as palmeiras
ventanias que vêm do mar
barulho de ondas.

O menino alcança quarenta quilômetros por hora
braços abertos fecha olhos por segundos
as rodas molhadas parecem levitar.

A mulher loira termina a sopa.

O amor finda.

O menino sobe a ladeira, a pé, carregando a veloz bicicleta.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como a madrugada produz incêndios!

Auroras

FUNDAMENTAL: Chomsky debulha a manipulação dos meios