O poema atoleimado
A prova fatal de que o poema não cumpre sua função:
Na areia da praia
No monturo
horda de crianças jaz, no crack,
e meninas vendem o corpo por vinte reais.
A prova de que o verso é parva lesma:
Bancos tratam com gentilezas sem-fim certos empresários
que vivem de furtar a vida e a alma de sergipanos pobres!
A prova de que a palavra no poema é uma mierda:
políticos corruptos seguem amparados por.
A prova de que a lírica do poeta é covarde:
um dos versos anteriores silenciou-se, pôs o rabo entre as pernas.
Se não bastam tais provas,
mais outras:
o bispo fecha olhos para práticas nefandas do prefeito, do vereador e do deputado;
Jesus é moeda de troca nas congregações neopentecostais;
o policial arrisca a vida por salário parco;
o professor ensina em troca de migalhas;
oligopólios e cartéis vicejam!
Bah, queres mais prova?
Esquece o poema e cuida de tua vida!
Vá!
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