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Mostrando postagens de março, 2009

Adriana e o mar

Adriana e o mar sol nenhum. O pesado barulho das ondas a quebra na praia. Nada de sol. Só a lerda vontade de estar na areia úmida do chuvisco. A noite: pingos na lagoa e nas amendoeiras. Seu corpo livre, íntimo já da terra, da grama, do borbulhar da água.

Gonzaguinha e a Operação Castelo de Areia, da PF

Não Dá Mais Pra Segurar (Explode Coração) Chega de tentar Dissimular E disfarçar E esconder O que não dá mais pra ocultar E eu não quero mais calar Já que o brilho desse olhar Foi traidor e entregou O que você tentou conter O que você não quis desabafar Chega de temer Chorar Sofrer Sorrir Se dar E se perder E se achar E tudo aquilo que é viver Eu quero mais é me abrir E que essa vida entre Assim como se fosse o sol Desvirginando a madrugada Quero sentir a dor dessa manhã Nascendo Rompendo Tomando Rasgando meu corpo E então Eu Chorando, gostando Sofrendo Adorando Gritando Feito louca alucinada e criança Eu quero meu amor se derramando Não dá mais pra segurar Explode coração Para bom entendedor...

Levantou os olhos e viu Adriana

Os canários, cantando, explodindo flores no chão úmido. Visita à caverna onde costumava ler, desde os doze anos. E onde conhecera, aos dezesseis, os suspiros roucos, profundos e incandescentes. Uma cadela grávida ganiu, perto. Levantou os olhos e viu Adriana, esguia, próxima, ali.

Olvide números

olvide números leia nuvens plantas bichos pios de aves e vôos de borboletas sinta canaviais pardais gorjeios de joões-de-barro no ninho pressinta a chuva invente gravetos molhados olor de grama e capim seja o silencio da relva e da pétala flor do cerrado o galho a balançar o bambuzal as estrepolias dos gaviões-de-penacho vislumbrar por que o concreto da cidade nova se há ao lado um éden um riacho laranjais e o cântico do silêncio e do vento o sibilante sorriso da brisa? Aqui a cidade nova é Águas Claras, em Brasília. Centenas de edifícios ganham vida, da noite para o dia. Ao lado, um parque com imensa floresta, riachos, pássaros e riquíssima flora do cerrado.

Comentários

Machadianamente falando, já repararam - a meia dúzia de leitores que me lê, se sorte tiver eu - que não peço que comentem nada? Pois é. Mas que seria bom um ou outro comentário, seria sim.

A paz

Se se trata de Gil, não precisa nem ouvir a música, basta lembrar da letra, cantarolá-la em pensamento que tudo fica bem. A paz invadiu o meu coração De repente, me encheu de paz Como se o vento de um tufão Arrancasse meus pés do chão Onde eu já não me enterro mais .

Dona Nenen

Dona Nenen do Cravinho luta contra o sono que vem com a tarde macia. Quer é pensar no caixão, na carneira, na mortalha completa, nos botes de vela, que já são em número de vinte; gosta de matutar sobre os preparativos para o grande dia. A fronte retesa, nessas horas. Dará conta de cuidar de tudo até o último momento? E quando chegar a malfadada hora? Quem a banhará? Não esquecerá de perfumá-la com alfazema? Será que a penteará com carinho, sem quebrar os cabelos delicados? A cama estará asseada? Terão cuidado de não deixar homem no quarto? Meu Deus! Vai é deixar tudo pronto, em ponto de bala — como diria o bom Gustavo. Melhor se prevenir. Afobação em sentinela pode ser ruim. E o café para servir às amigas no velório? Quem o coará? Pode convidar Finfilóquia, ou a sobrinha que mora em Wanderley, para cuidar do café e fazer sala às visitas — as últimas, e por isso mesmo merecerão muita atenção. É, assim será, ou uma ou outra. Contudo, comprará mais um vidrinho de alfazema, para o caso de

Dá-lhe De Sanctis!

O valoroso Juiz Federal Fausto De Sanctis desferiu um petardo contundente, em um dos trechos da decisão na operação Castelo de Areia : “Essa palavras são necessárias num país em que o medo tomou conta de tudo e de todos, quer porque as pessoas se envergonham de serem honestas, quer porque têm acesso a notícias de parte de setores da imprensa, muitas vezes orquestradas apenas para consagrar interesses exclusivamente privados ."

Mais garotos de Liverpool

A aula de Todorov

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Em A literatura em perigo (Difel), o búlgaro-francês Tzvetan Todorov faz uma reivindicação simples: é preciso ensinar mais a literatura e menos os estudos literários. Quer dizer, os professores precisam estar mais atentos aos sentidos da obra e menos às estruturas literárias, digamos, internas. Analisando a situação na França, Todorov lamenta o atual estado do ensino da literatura nas escolas, que valoriza concepções formalistas. Ele prega uma volta ao "conteúdo". Vindo de um dos principais artífices do estruturalismo, é de se aplaudir. No Brasil, salvo engano, precisaríamos de uma boa enxurrada teórica para diminuir a ânsia pela "mensagem". O ensaio de Todorov é de uma clareza estonteante. Logo no início, conta a história de como começou a se interessar pela forma. Na Bulgária comunista, a ideologia oficial se impunha. "Como falar de literatura sem ter de me curvar às exigências da ideologia dominante?" Decidiu tratar de "objetos sem cerne ideol

The Beatles. Ticket to Ride

Margarida Maria Alves

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No Dia Internacional de todas as Mulheres, este blog enaltece Margarida Maria Alves, líder sindical rural da Paraíba, brutalmente assassinada por latifundiários grileiros, em 1983. Até hoje os assassinos não foram punidos. "Prefiro morrer na luta do que morrer de fome." Nasceu em 5 de agosto de 1933, na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba. Em 1973 foi eleita presidente do Sindicato de Alagoa Grande, primeira mulher a ocupar um cargo deste no Estado. Durante 12 anos à frente do sindicato, foram movidas mais de 600 ações trabalhistas contra usineiros e senhores de engenho da região da Paraíba. Foi uma das fundadoras do Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural, cuja finalidade é, até hoje, contribuir no processo de construção de um modelo de desenvolvimento rural e urbano sustentável, a partir do fortalecimento da agricultura familiar. Margarida lutava pela defesa dos direitos do homem do campo, pelo décimo terceiro salário, o registro em carteira, a jornada de oito hor

Baudelaire

Na fila de leitura: Pequenos Poemas em Prosa , de Baudelaire. Acabei de ler dois. Cada qual com sua quimera lembra um pouco Metamorfose , de Kafka.

Cefaleia e leitura de Dostoievski

Talvez parte de algumas patologias (cefaleia, por exemplo), venham de tensionamento entre a obrigação, o dever, o trabalho necessário, e a urgência de fruir uma atividade prazerosa (a leitura de um romance por exemplo). O embate entre o dever e o prazer gera a tensão. E dele, nasce a tal patologia. Nada de novo, até aqui. O fato é que, lendo o quinto volume da megabiografia de Dostoiévski, de Joseph Frank, Dostoiévski: O Manto do Profeta, 1871-1881 , lembro-me a todo tempo dos códigos e da doutrina civilista e registral, à espera de leitura. Eis a tensão presente. Mas o sabor da leitura e o espírito que visita a Rússia czarista (no esforço de Frank de escanear o panorama sócio-cultural em que viveu o autor de O Idiota ) subvertem qualquer crítica que eu faça a mim mesmo. Certo que os amigos concursandos estão tendo relativo ou total sucesso. E o sistema , com a posse de muitos, oxigena-se visivelmente (uma revolução para uns; uma bobagem, para outros, néscios, que desconhecem o notaria

PENSAR. A vitóra do silêncio

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A proibição da venda do livro sobre Guimarães Rosa, escrito por Alaor Barbosa, representa uma aberração, ainda mais por envolver o autor de uma obra plena de liberdade Ricardo Lísias Especial para o Correio De vez em quando, surge a notícia de que um livro foi retirado de circulação no Brasil por ordem judicial. Recentemente, o caso mais famoso é o da biografia Roberto Carlos em detalhes, do historiador Paulo César de Araújo. Menos discutido, mas igualmente grave, é a recolha de Sinfonia Minas Gerais: a vida e a literatura de João Guimarães Rosa, estudo que o escritor brasiliense Alaor Barbosa, que vem de se destacar no concorridíssimo Prêmio Leya, publicou em 2007 pela Editora LGE. Em um processo movido pelos herdeiros do autor de Sagarana, o livro de Barbosa foi recolhido por decisão liminar. Logo o imbróglio entrará em fase de julgamento. Parece espantoso que uma argumentação tão frágil como a que defende os herdeiros de Guimarães Rosa tenha obtido uma vitória, mesmo apenas em deci

Paulo Freire e os movimentos sociais

Em tempos de criminalização hedionda de movimentos sociais, eis a opinião do respeitadíssimo educador Paulo Freire: "Estou absolutamente feliz por estar vivo ainda e ter acompanhando esta marcha, que, como outras marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade amorosa de mudar o mundo (...)".

The Beatles

Sueño

Cada noche traspasamos los bastidores de nuestra conciencia para adentrarnos en un mundo oculto que se encuentra dentro de nosotros. Un lugar donde la lógica se esfuma y nos sumergimos dentro de las vivencias más surrealistas: somos capaces de volar, andar flotando, saltar los escalones de tres en tres; las personas con las que estamos de repente se transforman en otras; abrimos una puerta de nuestra casa y nos encontramos en algún terreno totalmente desconocido; los animales nos hablan; los seres queridos que ya han fallecido vuelven a estar con nosotros… Un mundo en el que todo, absolutamente todo, es posible. Leia mais aqui (no El País)