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Mostrando postagens de novembro, 2008

Da brisa: Desverso*

* poema prosificado acerca de muitas coisas Que faz a brisa do mar na tez do homem que beira os quarenta em cidade estranha? Qual o nome do fenômeno que resulta em frios internos e calores e levezas e pusilanimidades (ai, Cecília, que coisa essa palavra!)? (Nâo me venha com bílis ou sifílis, oxente!) Qual a mecânica do remover coisas e sentimentos e ais e sonhos e promessas e amores e ver moças em flor e mulheres belissimamente maduras em sorrisos abissais e o ver e namorar a têmpora (ora soturna ora apocalíptica ora rebentando em tempestades de amor luz e dor) da lua enormemente posta no firmamento de um céu ancestral num mundo largado ao deus-dará ao léu e, ao ouvir gil, considerar que ele aos sessenta canta bem demais (eu escrevi bem pra porra mas risquei, no original, pois talvez meia dúzia que me lessem assim, torceriam o nariz bem assim, ó!)? (Não se avexe, que solidéu não é rima para arpéu, nem diz do torpor da solitude, não!) Odores de mar! Mulher, ilhéus em nós mesmos? Portant

Câmara aprova cota de 50% para alunos do ensino público nas universidades federais

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta quinta-feira (20), projeto que reserva metade das vagas em universidades públicas federais para alunos que cursaram todo o ensino médio em escolas públicas. Parte destas vagas terá de ser preenchida por estudantes negros e indígenas, de acordo com o percentual desses grupos na população do Estado em que está a instituição de ensino. Para tanto, serão considerados os dados do último Censo do IBGE. Um acordo entre os parlamentares também incluiu um critério social no sistema de cotas. Assim, 25% das vagas reservadas serão destinadas para aqueles que, além de terem estudado em escolas públicas, sejam de famílias com renda de até um salário mínimo e meio por pessoa (cerca de R$ 620). Para entrar em vigor, a lei, que também garante cotas para os cursos técnicos profissionalizantes de nível técnico, ainda precisa de aprovação do Senado. Vitória do governo A lei contempla proposta do governo federal que, na Comissão de Educação da Câmara, a partir de subs

Todo apoio a De Sanctis!

2 X 1 no TRF!

Na vida

na vida tudo é o criar mundos o fazer flores o nascer crias de alabastro ou vertigesn de caules verdes o domar dores o limar olhares e crepúsculos o cantar versos e rimas e novenas na noite incensada o ouvir velhas carpindo lágrimas de lívidas ninfas o descer telhas de caibros rotos e nuvens de céus escuros o costurar luas partidas em terreiros onde cães ladram luzes opacas _____ Mais um pouco de O Estado do Mundo

Suave fragor

O rude homem da Ibéria, cego de sóis Tem ouro e árias especiais das Índias. Avança para o litoral. Foge da nau coimbrã. Mas o suave fragor das asas Duma abelha egressa de girassóis Nos lânguidos ouvidos asila. Esperando que O Estado do Mundo seja publicado, aqui um pedaço dele. O Estado do Mundo trata-se de poema épico escrito a muitas vozes - vozes de escritores de todos os países lusófonos. Lá estou, com meia dúzia de versos. Aguardemos.

a chuva

já fui de chorar com a chuva que evoca dias antigos: o banho nela o prazer e o espanto dos pés metidos nas cascatas na porta de casa (praça castro alves!) já fui de lembrar chuvas senis: no inverno tenras nuvens suscitam o que não mais palpitava no coração já fui de sofrer a chuva nova o clima terno o frio a retirada da velha blusa do armário o café quente a vontade de dormir já fui de esperar a chuva na ausência do calor de quem gosto a chuva trazia sempre rala alegria essa desconhecida outrora evidente nos cabelos de fogo dela sim, já fui de amar a chuva hoje não mais apenas o ruído de carros afastando águas na rua molhada e a sempiterna e mansa aflição que me sustém por estes dias globalizados na periferia do mundo 19.01.03

Náutico

cadernal de dois gornes e um moitão cristotomia desbaste cepo banco pequeno e tosco: talho palomba novelho de mialhar tralhas e o mar sem anzóis e o peixe sem feridas e o o vento com sais que a tudo assovia vergastando as folhas do dicionário na mesa do capitão cansado

Zoada

Tento escrever, mas enorme barulho ecoa pela casa, pela rua, por toda parte. Acordo — já com a zoada. Nem me lembro se por causa dela. Sonhava, é certo. Lavo o rosto — e o barulho. O vidro traz a ressonância do ruído que não sei de onde vem. Minha casa fica no fim de uma das ruas largas do condomínio, pouco transitadas. Raras carroças e bicicletas é que vêm dar ali, de quando em quando. Vou até a varanda e espreito o aparentemente calmo mundo. As folhas da árvore balançam com o vento morníssimo. O sol é bom, aquece-me o rosto, anima-me a sorrir. O café, os ruídos. As louças começam a trepidar. O pão esfarela sozinho. O leite e a nata dançam. Levanto-me. Deixo a mesa, busco o romance que leio. Não acho. Começo a considerar que a ausência do silêncio poderá, decerto, quebrar a paz que sempre polira o tempo por ali. A vida sossegada que levo periga? Procuro em seguida o tomo pesado de Pedro Nava. Contudo, esqueço-me dele, e, dando meia-volta, sento-me no sofá macio. Agora, a caminhada, os

Mikhail Bakhtin e a autoridade poética

O teórico russo não se interessou apenas pela prosa, mas também pela definição da poesia. Cristovão Tezza O presente texto tentará descrever o que chamo de "hipótese de Bakhtin" na definição da linguagem do discurso poético. É fato que a prosa foi o grande tema de Mikhail Bakhtin (1895-1975) -mas ele também teorizou sobre a poesia, se não extensivamente, pelo menos intensivamente em alguns momentos. Além disso, toda a concepção de linguagem e de literatura de Bakhtin pressupõe, sempre, um lugar da poesia e um lugar da prosa, não no quadro tradicional dos gêneros composicionais, quadro esse que nunca interessou Bakhtin, mas como formas substancialmente diferenciadas de "apropriação da linguagem". Assim, antes de entrar na questão específica da poesia, é preciso rever o conceito de prosa romanesca segundo Bakhtin -é apenas com relação a esse conceito que sua visão de poesia fará sentido. O grande centro temático de todas as ramificações do pensamento bakhtiniano está

Proteção. Cadê?

Conceição Freitas Quando Ana Lidia foi assassinada, em 1973, muito provavelmente por uma turma de riquinhos da cidade, Brasília levou o primeiro grande banho de realidade. A ilha da fantasia alimentava, no coração da elite, uma horda de drogados e perversos. O assassinato de Mário Eugênio, em 1984, foi mais um solavanco: a capital do país e da arquitetura moderna, toda planejada para o bem-viver, acolhia um esquadrão da morte nascido dentro das polícias Civil e do Exército. Quando Marco Antônio Velasco, em 1993, foi assassinado, Brasília levou mais um safanão: o Plano Piloto estava sendo dominado por gangues de classe média. A bandidagem não nascia só em Ceilândia, como se pensava à época (e como até hoje muitos ainda acreditam, tenham certeza disso). Quatro anos depois, quando os cinco rapazes de classe média queimaram o índio Galdino no ponto de ônibus, Brasília definitivamente perdeu a ilusão: alguma coisa de muito grave acontecia no roteiro boas-escolas- clubes-churrascos-gilberto.

A anistia de Jango em Natal

Neste sábado, 15 de novembro, feriado da Proclamação da República, ocorreu em Natal acontecimento político importante de repercussão nacional: o ato de anistia política do presidente João Goulart, quase meio século após ser deposto da Presidência da República. Essa decisão foi tomada em julgamento da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça realizado hoje (15/11). A viúva do ex-presidente, Maria Teresa Goulart, também foi anistiada. Fato que levou a capital do Rio Grande do Norte ao noticiário nacional, por ter sido a primeira vez que um ex-presidente da República é anistiado por perseguição política. O ato torna-se histórico também pelo fato de a deposição de Goulart ter sido o marco do início da ditadura militar que se estabeleceu no país por cerca de 20 anos, como diz o noticiário da Agência Brasil . Representou a família do presidente Jango, como era conhecido, o neto Cristofer Belchior Goulart, da qual participou o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente da Comissão d

Ventos

ventos barulham a entreaberta janela da noite corazón descarrila e o sábado é como erá há verões sem-fim bah livros técnicos aguardam, e o Pessoa nem pode bater um papo comigo pelo MSN resta ver a puta da Flora daqui a meia hora

Houaiss Joyce CV

Um dos posts do CV: Caetano Veloso disse: Novembro 13th, 2008 at 5:55 am Heloísa, que bom que não foi por raiva de mim que você demorou a reaparecer. Embora estivesse revoltada com minhas voltas em torno do “aleijão”. A música “A Outra banda da Terra” é do início dos anos 80. Mas não sejamos tão lineares. O amor que demonstrei ali só fez crescer desde então. Nem por isso deixei de escrever o que escrevi em “Verdade tropical”. E não vejo nenhuma incompatibilidade entre o que ali disse (ou a explicação que esbocei aqui) e o fato de grandes inteligências e obras se desenvolverem em falantes do erre retroflexo. É preciso separar duas coisas: em “Verdade tropical” narro o que se passou e o que pensei a respeito. Aqui somei à afirmação de que amo o erre retroflexo e odeio quem deseja humilhar os outros à confissão de que não creio ser possível, nem benéfico, querer-se dizer que os sotaques todos se equivalem. Ou que todos os aspectos de todos os sotaques têm peso idêntico. O mesmo para as va

Viagem federal!

Na periferia de Brasília é comum falar que o papo é federal quando se quer dizer que a conversa está ótima! Piração são os mais de 200 posts no blog do Caê, Obra em Progresso . Lei aqui , com tempo, pois é uma viagem lítero-musical e filosófica (entre outras pérolas, você vai ficar sabendo que Obama perguntou a um diplomata brasileiro se ele não parecia ser brasileiro).

Adriana: Traduzir-se

Poema Sujo*

Mas na cidade havia muita luz, a vida fazia rodar o século nas nuvens sobre nossa varanda por cima de mim e das galinhas no quintal por cima do depósito onde mofavam paneiros de farinha atrás da quitanda, e era pouco viver, mesmo no salão de bilhar, mesmo no botequim do Castro, na pensão da Maroca nas noites de sábado, era pouco banhar-se e descer a pé para a cidade de tarde (sob o rumor das árvores) ali no norte do Brasil vestido de brim. E por ser pouco era muito, que pouco muito era o verde fogo da grama, o musgo do muro, o galo que vai morrer, a louça na cristaleira, o doce na compoteira, a falta de afeto, a busca do amor nas coisas. Não nas pessoas: nas coisas, na muda carne das coisas, na cona da flor, no oculto falar das águas sozinhas: que a vida passava por sobre nós, de avião. Não tem a mesma velocidade o domingo que a sexta-feira com seu azáfama de compras fazendo aumentar o tráfego e o consumo de caldo de cana gelado, nem tem a mesma velocidade a açucena e a maré com seu ex

Poema sujo

"O Poema Sujo de Ferreira Gullar é capa e espada, crime e castigo, campo de lavanda de pesadelos, dedo em riste, consciêncial, barulhando delimites e cifrando horizontes pisados. O Poema Sujo é uma porção-crusoé, uma decantação, com ele macunaímico feito um lázaro entupido de angústia, cirurgicamente pinçando dezelos sociais, todos destramelados nas palavras. O Poema Sujo de Ferreira Gullar registrou seu tempo, pontuou suas dobradiças entre o sujo e o belo, o feio e as cantatas; nas erratas de uma historicidade que gerou desmandos e desmundos." Silas Corrêia Leite

Gullar. Vida

Veloso, em Guadalajara

Caetano, no México.

Trivial do juiz só

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O Ministro Marco Aurélio de Mello é responsável por grandes avanços na jurisprudência do Supremo. Li essa afirmação certa vez em um artigo assinado por Fábio Konder Comparato, acho que também pelo Bandeira da Mello e pelo Dalmo Dallari. Sempre foi um homem só, ele e sua consciência. Deu sentenças polêmicas, sem receio de desagradar. Falou além da conta, quando presidente do TSE. Mas nunca abriu mão do rigor técnico. Doutrinariamente é um liberal, como Gilmar Mendes. Na hora do voto o liberalismos se manifesta em votos técnicos e fundamentados - ao contrário de Mendes . Na votação de quinta, mais uma vez Mello investiu contra o corporativismo e o efeito-manada. É um juiz de coragem. Fonte : blog do Nassif

Agentes que participaram da Operação Satiagraha sofrem devassa em suas casas

Assim, não, PF! (Ou melhor, assim não, Justiça Federal!) Um dos policiais que participaram da investigação sobre Daniel Dantas teve casa revistada e fez desabafo no Blog do Nassif. O depoimento, anônimo, por razões óbvias, aponta que faltou reconhecimento aos agentes que participaram da Operação Satiagraha. "Não aceitei a proposta de suborno de um milhão de dólares, encontrei muita prova contra as pessoas que foram investigadas", ressalta o policial. Para ele, a devassa que o delegado Protógenes Queiroz e seus subordinados estão sofrendo é um recado. "Faça apenas o trivial. Se quiser investigar, investigue um peixe pequeno", disse. Veja a íntegra da carta no Blog do Nassif .

História de horror!

Leia em Carta Capital desta semana. A memória do holocausto brasileiro deve ser preservada, para que nao ocorra nunca mais! "...Fui com outras duas senhoras que também estavam procurando, vimos somente cadáveres, bem torturados estavam, tinham arrancado as entranhas, a queixada, a língua, um olho, as unhas, os dedos estavam cortados." Leia mais .

Zii e Zie

"Mas vocês todos deviam saber o que é Zii e Zie em italiano. Escolhi o nome pela impressão curiosa (e bela) que essas palavras simples causam quando escritas juntas. As encontrei assim na tradução italiana de Istambul, de Orhan Pamuk, que li na ida à Turquia, presente de uma italiana espectadora assídua dos meus shows. É um modo livre, misterioso e revelador de coisas que não sei, de nomear um disco tão lançado à aventura." Caetano, em seu blog, sobre o novo disco.

Veloso: político, sempre. E gênio!

As letras de Zii e Zie soarão bem datadas quando o disco sair. Digo, aquelas que falam de fatos políticos pontuais, como a Base de Guantánamo (como alguém já notou aqui), assim como aquelas que têm uma versão muito peculiar minha da euforia afirmativa que nasce dessa nossa fase FH-Lula. Lygia Clark dizia que o tropicalismo era romântico: dependia das informações da hora: falar em Coca-Cola, Paulinho da Viola, passeatas, Brigitte Bardot era atrelar-se ao tempo – e preparar a própria obsolecência; enquanto ela, trabalhando na area de decisões formais e expressivas em princípio atemporais, tinha ambição clássica. Ela não o dizia com ar de superioridade sobre nós. Dizia com carinho e com uma rosa de plástico enfiada numa garrafa de Coca-Cola no meio da toalha de mesa que estendeu no chão de sua casa em Paris, para que nosso jantar parecesse um piquenique. Mas a Brigitte e as Cardinales não impedem que “Alegria, alegria” seja ainda minha canção mais querida por brasileiros. E o que é dito e

Caetano!

Fantástico clip de O Estrangeiro!

Come è profondo il tuo amore!

Gil de novo. Palco

Belíssima canção. Versos mágicos!

Imagem do mês: Doris Lessing

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Antonio Lobo Antunes

Primeira página do novo livro de Antonio Lobo Antunes Ontem Não te Vi em Babilônia : "Chegava sempre antes da sineta quando ia buscar a minha fi lha e tirando a madrinha da aluna cega a cochichar cumprimentos em tom de desculpa sem que eu a entendesse (de tão exagerada na infelicidade dava vontade de gritar — Afaste-se de mim não me aborreça) não havia ninguém ao portão de modo que o recreio vazio excepto uma árvore de que nunca soube o nome com as folhas demasiado pequenas para o tronco e se calhar composta de várias árvores diferentes (as mãos do meu pai minúsculas no fi m de braços enormes, se calhar composto de vários homens diferentes) o escorrega a que faltavam tábuas com o letreiro Não Usar e a porta e as janelas trancadas, derivado à impressão que ninguém lá dentro compreendi a madrinha da aluna cega, disselhe sem palavras — Não é exagerada perdão e como deixei de ter fi lha cessei de respirar, não só a porta e as janelas trancadas, compartimentos desertos, poeira, o edifí