Veloso: político, sempre. E gênio!


As letras de Zii e Zie soarão bem datadas quando o disco sair. Digo, aquelas que falam de fatos políticos pontuais, como a Base de Guantánamo (como alguém já notou aqui), assim como aquelas que têm uma versão muito peculiar minha da euforia afirmativa que nasce dessa nossa fase FH-Lula. Lygia Clark dizia que o tropicalismo era romântico: dependia das informações da hora: falar em Coca-Cola, Paulinho da Viola, passeatas, Brigitte Bardot era atrelar-se ao tempo – e preparar a própria obsolecência; enquanto ela, trabalhando na area de decisões formais e expressivas em princípio atemporais, tinha ambição clássica. Ela não o dizia com ar de superioridade sobre nós. Dizia com carinho e com uma rosa de plástico enfiada numa garrafa de Coca-Cola no meio da toalha de mesa que estendeu no chão de sua casa em Paris, para que nosso jantar parecesse um piquenique. Mas a Brigitte e as Cardinales não impedem que “Alegria, alegria” seja ainda minha canção mais querida por brasileiros. E o que é dito em “Diferentemente” sobre Osama e Condoleezza poderá ter uma graça futura que não podemos apreciar hoje. Sem falar nas profecias ultra otimistas que se ouvem em “Falso Leblon” e “Lapa”. Eu, na verdade, acho essas afirmações desaforadas mais interessantes em face da crise do que seriam se soassem meramente como reafirmação de uma aprovação ao governo de 80%.

do blog Obra em Progresso, de Caetano Veloso

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como a madrugada produz incêndios!

FUNDAMENTAL: Chomsky debulha a manipulação dos meios

Auroras