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Mostrando postagens de março, 2008

Suntuosas nuvens

Estas suntuosas nuvens, ajudadas pelo vento, parecem ter o poder de revolver o tempo. disparando de volta memórias da infância. Manuel de Souza Magalhães nasceu em Olinda, PE (1744-1800).

Invente gravetos molhados

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olvide números leia nuvens plantas bichos pios de aves e vôos de borboletas sinta canaviais pardais gorjeios de pequenos joões-de-barro no ninho aguardando o alimento pressinta a chuva e invente gravetos molhados e o olor da grama e do capim seja o silencio da relva e da pétala da flor do cerrado o galho a balançar o bambuzal as estrepolias dos gaviões-de-penacho vislumbrar por que os edifícios altos da cidade nova se há ao lado um éden um riacho laranjais e o cântico do silêncio do vento o sibilante sorriso da brisa?

Quem poderá fazer aquele amor morrer

Drão Gilberto Gil Drão o amor da gente é como um grão Uma semente de ilusão Tem que morrer pra germinar Plantar nalgum lugar Ressuscitar no chão nossa semeadura Quem poderá fazer aquele amor morrer! Nossa caminhadura Dura caminhada pela estrada escura Drão não pense na separação Não despedace o coração O verdadeiro amor é vão, estende-se, infinito Imenso monolito, nossa arquitetura Quem poderá fazer aquele amor morrer! Nossa caminhadura Cama de tatame pela vida afora Drão os meninos são todos sãos Os pecados são todos meus Deus sabe a minha confissão, não há o que perdoar Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão Quem poderá fazer aquele amor morrer Se o amor é como um grão! Morre nasce, trigo, vive morre, pão Drão

Você para mim

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você para mim é como paula lima cantando flor de maracujá evinha cantando como vai você vanessa da mata cantando você para mim é como toquinho cantando chico cantando queixa milton caçador gil cajuína ou drão ou baden você para mim é como gullar cantando versos você para mim é mercedes sosa volver a los 17 vinicius de moraes soneto da fidelidade

O Estrangeiro

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Eis bela canção-poema do baiano poeta de Santo Amaro da Purificação. O pintor Paul Gauguin amou a luz da Baía de Guanabara O compositor Cole Porter adorou as luzes na noite dela A Baía de Guanabara O antropólogo Claude Levy-strauss detestou a Baía de Guanabara: Pareceu-lhe uma boca banguela. E eu menos a conhecera mais a amara? Sou cego de tanto vê-la, te tanto tê-la estrela O que é uma coisa bela? O amor é cego Ray Charles é cego Stevie Wonder é cego E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem Uma baleia, uma telenovela, um alaúde, um trem? Uma arara? Mas era ao mesmo tempo bela e banguela a Guanabara Em que se passara passa passará o raro pesadelo Que aqui começo a construir sempre buscando o belo e o amaro Eu não sonhei que a praia de Botafogo era uma esteira rolante de areia branca e de óleo diesel Sob meus tênis E o Pão-de-Açúcar menos óbvio possível À minha frente Um Pão-de-Açúcar com umas arestas insuspeitadas À áspera luz laranja contra a quase não luz quase não púrpura Do b

Os que escreveram

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Kafka judeu em Praga. Borges cego na periferia descampada de Buenos Aires. Quasimodo furioso com a brutalidade do fascismo. Gogol buscando luzes em almas escuras. Dickens a descrever o largo triste olhar de Twist. Hansen sacramentando anseios de pão — como Münch ecoara – aos berros. Além: antes Grimm e Andersen que Lobato talvez conheceu por vírgulas Cá: Rosa resvalando garças em várzeas sob pontes Ou em vôos brancos de só graças dessas aves. Clarice assustada com o russo dos subterrâneos e da remição Advogada sem lei. Deusa-anjo de Wenders. Cecília e o mito do estar só em contemplação de nada. Implodindo Sartre. Osman Raduan Hatoum Antônio Torres Torres Filho: Tantos e outros nem nomes sem cara mas folhas.

Entre pedras e nuvens

gesticulam. que balbucios estranhos! falam muito -- e prossegue o pêndulo no reino das horas pragmáticas seus dentes não serram o talo das dálias mas são alvos e o sol neles é um presente amar é um ausente transeunte amar e abraçam, minuciosos seus dias e auroras explicando serem cais praia areia e verões inquietos explicando gesticulando (que distante eu, perdido entre pedras e nuvens sentindo já o cheiro bom da manhã carregada de inverno) *** 1985, aos 17 anos

O costurar luas partidas

na vida tudo é o criar mundos o regar flores o nascer crias de alabastro ou vertigens de caules verdes o domar dores o limar olhares e crepúsculos o cantar versos e rimas e novenas na noite incensada o ouvir velhas carpindo lágrimas de lívidas ninfas o descer telhas de caibros rotos e nuvens de céus escuros o costurar luas partidas em terreiros onde cães ladram luzes opacas