Roberto Freire, escritor


Criador da somaterapia e de obras como Ame e dê vexame e Cleo e Daniel morre aos 81 anos, de causa não revelada pela família



Da Redação


André Sarmento/Folha Imagem - 7/2/03
Freire na época do lançamento de sua autobiografia: contra a neurose

O escritor, poeta e terapeuta Roberto Freire morreu na noite da última sexta-feira aos 81 anos, em São Paulo. Por recomendação dele, deixada em carta, a família, que não divulgou a causa da morte, cremou o corpo ontem à tarde na Vila Alpina e não realizou cerimônias fúnebres. Autor de 25 livros, Roberto Freire também escreveu para teatro, cinema e televisão. Entre suas obras mais conhecidas estão Sem tesão não há solução, Coiote e Cleo e Daniel, que ganhou versão para o cinema em 1970, com participação de Sônia Braga, dirigida pelo autor. Também trabalhou para a TV como roteirista dos programas A grande família e TV Mulher, onde revelou Marília Gabriela, como apresentadora, Marta Suplicy, como sexóloga na televisão, e o estilista Clodovil. Freire também atuou no jornalismo e tentou escrever novela, mas não deu certo e o trabalho foi interrompido.

Em 2003, já com 77 anos, Roberto Freire lançou a autobiografia Eu é um outro. Na década de 70, ele criou uma terapia alternativa e heterodoxa, conhecida como somaterapia. Trata-se de uma terapia corporal em grupo, baseada nas teorias psicanalíticas do austríaco Wilhelm Reich e de conceitos anarquistas. Busca o desbloqueio da criatividade, com uma nova abordagem do corpo e das emoções. Freire apresentava-se como "anarquista, escritor e terapeuta". A intenção dele, como médico que rompeu com a psicanálise tradicional, era desenvolver uma nova prática psicológica que auxiliasse os homens na busca de sua liberdade.

A somaterapia, ou soma, considera a neurose fruto das organizações sociais autoritárias. Numa sociedade onde a liberdade é cerceada pela repressão da família tradicional burguesa, na pedagogia escolar autoritária e nas religiões castradoras, a neurose surge como um processo de ajustamento dos indivíduos. A somaterapia também defende a tese de que a neurose é um fenômeno social, que se forma de fora para dentro, e se instala no corpo das pessoas impedindo sobretudo a expressão livre da espontaneidade, da afetividade e da sexualidade.


Fonte: Correio Braziliense, 25.05

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