Com a palavra, Sousândrade
A Bíblia da família à noite é lida;
Aos sons do piano os hinos entoados,
E a paz e o chefe da nação querida
São na prosperidade abençoados.
-- Mas no outro dia cedo a praça, o stock,
Sempre acesas crateras do negócio.
O assassínio, o audaz roubo, o divórcio,
Ao smart Yankee astuto, abre New York.
É pelo Inferno do Canto X (O Inferno de Wall Street), que representa o vórtice desregrado do capitalismo em ascensão, que Sousândrade efetua a sua crítica mordaz e surpreendentemente premonitória – a corrupção corroendo as instituições republicanas (Oh! Como é triste da moral primeira, / Da República ao seio a corrupção!). Sob sua perspectiva, enxerga-se o mundo devorado pela usura, pela mercantilização, pela ganância. A Bolsa de valores (Stock Exchange) de Wall Street passa a ser o símbolo de uma sociedade que desmorona pela avidez do dinheiro. A Bolsa passa a ser a filosofia, a moral, a pátria, a igreja de uma sociedade. (Laeticia Jensen Eble, no Jornal de Poesia.)
Comentários