E tome mais

28/04/2005 21:51

Décimo capítulo de Vida de Gato

Li hoje, numa pausa aos códigos e às penas da vida (puta indústria do Direito!), o décimo e último capítulo de Vida de Gato, da Clarah Averbuck (Máquina de Pinball e Das Coisas Esquecidas atrás da Estante), menina (nasceu em 79) que vem escrevendo como gente grande! E fiquei tão fissurado que digitei o capitulo (menos de página e meia) para colar aqui:

"Porque eu sou um gato de rua, dos mais vagabundos, revirando os lixos, fuçando nos cantos, me enfiando nos piores becos em busca de um dono. Mas gatos não têm dono. Gatos têm servos, escravos cegos e devotos, sempre prontos para mimá-los, ou não têm nada. AUT EGO AUT NIHIL. Então eu continuo , nenhum amor nesta lata, nem nesta outra, talvez na próxima esquina, na próxima casa na próxima festa, talvez naquele bar, talvez naquela estrada. Depois do farol, depois do pedágio e já nem sei mais voltar para onde estava. Depois daquele morro, depois do rio e do mar, depois dos pampas, dando a volta ao mundo de volta ao mesmo lugar. O mesmo beco. A mesma cara, sobrancelha de gato levantada e costas eretas, cuidando perfeitamente do meu nariz. Sobrevivendo. Mas sempre com saudade daquela casa, daquela cama quentinha, daqueles dias tão sagrados. Pobres e livres, não é assim que os gatos são? E temos sete vidas não temos? Antônio meu amor, você levou a primeira. O primeiro a me matar. Mas amor não morre, ele disse que amor vira raiva ou rima. Eu que morri, morri de amor. Morri de ingênua, o lençol branco cobrindo meu corpo ainda mais branco, nenhuma lágrima, tanta dor que ninguém sente mais nada. Morta pela primeira vez. Ainda bem que nós, gatos, temos sete vidas."

E a narradora (a própria Clarah?) conclui citando Felinni:
"Não há fim. Não há início. Há apenas a infinita paixão da vida."

enviada por Lafaiete Luiz

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