Suave fragor


(Canção do corrupto)

Vintém por vintém
Vai o esquálido homem
Recolhe petrechos dalma
Perde infâncias, furta memórias
Ama coisas: retalha a si

Esconde anzóis e peixes que pescara
E goiabas ainda maduras
Em urnas rotas
Em sótãos soturnos

Sem bem nem nuvem
Vai o homem
Anseia céus e luas
Em vilas alheias à poesia
(Em sítios estranhos à lira)

Vai, ancho, manco:
Tem ouro e árias especiais da Índia,
Mas o suave fragor das asas
Duma abelha egressa de girassóis
Em seu ouvido não mora

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