Morte de um personagem


Ele tinha as chaves
que abrem as portas misteriosas
que levam aos labirintos mitológicos.

Conhecia os segredos
do fundo do mar
como se nunca tivesse saído de lá(r).

Tão absorto,
ouvia as vozes do vento,
antes que silenciasse na campina,
se encondesse na floresta,
se perdesse numa curva,
que se esquecia ao vento...

Quantas vezes, no silêncio da noite,
próxima ao fim de um caso,
perturbado apenas pelo movimento do herói,
uma voz es esguia atrás de si
e rouba-lhe o melhor da estória:
o desfecho! (1)

Mas aquela noite seria sua
a primeira estrela (2) nascera e cintiliava,
tão fulgurante,
quanto o raio de uma piscadela
de olhar medúsico.

Com sua arma mas simples(3)
tenta mudar a lenda,
caminhando à frente
daqueles que se desentenderam em Babel...

Mas a mesma força
continua movendo
os gestos complexos dos homens...

Então, é preciso voltar prá estória
antes que os comerciantes abram suas portas,
que os camelôs apregoem seus preços,
que as crianças despertem,
antes que as bordas do livro se fechem...

Por todos os lados estava cercado.
Só lhe resta o azul infinito
que se abre sobre sua cabeça...

Arrebanha as asas da fuga
e simula o mais utópico vôo,
lançando-se no abismo,
em busca da liberdade. (4)

No entanto, com o calor,
as asas começam a derreter
e seu corpo inevitavemente cai
nas págians
da crônica da cidade.(5)


(1) Eventual alusão ao poema Corvo de Poe e à ordem paterna que era hora de dormir.
(2) Aqui, eu refiro-me a Marte, conhecido na mitologia grega como protetor dos ladrões e comerciantes.
(3) Segundo a versão que corria na cidade, ele tinha usado uma escada para subir pelo telhado da banca de revista.
(4) Sugestiono que seja a imaginação dele, ao mito de Ícaro...
(5) Esses três últimos versos fala do final trágico: a ação policial e a morte, banalizada naquela cidade.


Em e-mail o amigo Avelino, após ler trecho da novela Anantha, explicou o leitmotiv do poema ora postado:

"O que me intrigava no Edson é que ele era distante, mas leitor aficcionado (em gibis - o que havia disponível na época), até que ocorreu a fatalidade. Por isso resolvi homenageá-lo com esse poema que abre o livro e, naquele momento, tinha a representação do centro do mundo (o 'aqui e agora'), não obstante me sentisse periférico (e hoje muito mais - mas essa é outra estória).
Aliás, alguns poemas publicados no livro Mensagem são sobre pessoas de Barreiras, sobre o descobrimento do Brasil (Prostituição), a colonização do Brasil (Canção à Amada e parte do poema Canção Maldita). E lero-lero...
Vamos ao poema!

Comentários

Não entendi. Qual è a autoria do poema???

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