Lawrence Ferlinghetti


Para quem não foi viciado na coleção "Circo de Letras", da Editora Brasiliense, publicada na década de 80, como fui (e gastava o salário de boy do Banco do Brasil - e não recursos públicos, como hoje se faz - para comprar os exemplares de poesias e daquela prosa psicodélica), segue um poema de Lawrence Ferlinghetti.

Quanto ao poeta, aí esta o Google, enciclopédia global e temor de nações mundo afora (tal o domínio da informação), para que saibam mais a respeito dele:

Café Notre Dame

Uma espécie de trauma sexual
prende um casal abismado
Ele está segurando as duas mãos dela
nas suas
Ela está beijando as mãos dele
Estão olhando-se
nos olhos
de muito perto
Ela tem um casaco de peles
feito duma centena de coelhos correndo
Ele
tem um casaco clássico sombrio
e calças cinza-de-pardo
Agora estão a examinar as palmas
das mãos um do outro
como se fossem mapas de Paris
ou do mundo
como se estivessem à procura do Metro
que os levasse juntos
através dos caminhos subterrâneos
através das «estações do desejo»
até ao terminal do amor
até às portas da cidade-luz
É um caso sem saída
e estão perdidos
nas linhas cruzadas
das suas palmas enlaçadas
suas linhas de cabeça e linhas de coração
suas linhas de sorte e linhas de vida
ilegíveis e misturadas
no mons veneris
da sua paixão


Postado por mim, africanóide (como noventa por cento dos brasileiros somos, embora neguemos) e enviesado escriba, localizado na periferia da cultura do mundo. Ora residindo em Aracaju, bela cidade nordestina, na primeira décima parte do século 21.

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