Ritual, em 1988, em Brasilia


Quando cheguei em Brasília, em 1988, vindo do interior da Bahia, noviço, as FMs explodiam a bela canção "Eduardo e Monica", da Legião Urbana, com sua inconfundível e gostosa batida. Entrei em transe. Queria saber que banda era aquela, queria saber tudo sobre os caras.

Dias depois comprei o disco novo do Cazuza, "Só se For a Dois", e pude ouvir "Ritual". Estava ali o poema-pós-Caetano de tantos versos densos. Durante dias eu ouvia a canção, relia a letra, cantarolava, cantarolava.

É um poema beat, puríssimo! Senão, comprovem:

RITUAL

Pra que sonhar
A vida é tão desconhecida e mágica
Que dorme às vezes do teu lado
Calada
Calada

Pra que buscar o paraíso
Se até o poeta fecha o livro
Sente o perfume de uma flor no lixo
E fuxica
Fuxica

Tantas histórias de um grande amor perdido
Terras perdidas, precipícios
Faz sacrifícios, imola mil virgens
Uma por uma, milhares de dias

Ao mesmo Deus que ensina a prazo
Ao mais esperto e ao mais otário
Que o amor na prática é sempre ao contrário
Que o amor na prática é sempre ao contrário

Ah, pra que chorar
A vida é bela e cruel, despida
Tão desprevenida e exata
Que um dia acaba

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