Um pouco do gênio de Flaubert


O Ville-de-Montereau, pronto para partir, fumegava com toda a sua força diante do cais Saint-Bernard. Chegava gente ofegante; barricas, cabos, cestos de roupa impediam a circulação; os marinheiros não respondiam a ninguém; todos se acotovelavam; os volumes entre os tambores amontoavam-se; e o barulho se absorvia no ronco do motor, que, lançando fumaça pelas chapas de ferro, envolvia tudo num nevoeiro esbranquiçado, enquanto a sineta de proa tocava sem parar. Enfim o navio partiu; e as duas margens, cheias de armazéns, canteiros e fábricas, deslizaram como duas largas faixas que desenrolamos. [...] Através do nevoeiro, contemplava os campanários, os edifícios cujo nome desconhecia; com um último olhar, envolveu a Ilha de Saint-Louis, a Cité, Notre-Dame; e, Paris desaparecendo, soltou um grande suspiro.

Gustave Flaubert
A educação sentimental

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