Rilke no Orkut


04/06/07 - José

Os Sonetos a Orfeu

Château de Muzot, fevereiro de 1922


04/06/07 - José

Rosa - rainha, para os de outrora
eras um cálice singelo e desfrutável.
Para nós, porém, flor da aurora,
és fonte, manancial inesgotável.

Vestes sob o manto ricos mantos,
criatura que só brilho apresenta;
tuas pétalas nuas, no entanto,
tanto evitam quanto negam a vestimenta.

Há séculos te sinto vibrar
em nós com os nomes mais doces;
de súbito, glorioso, paira no ar.

Não sabemos nomeá-lo. Adivinhação.
Cada lembrança é como se fosse
uma prece em hora de devoção.

Rainer Maria Rilke

07/06/07 - José

Em que jardins floridos, tratados com boa mão,
em que árvores e flores, despidas com ternura,
matura a estranha fruta da consolação?
Que pura a achaste no chão de tua penúria.

Com a perfeita proporção do fruto
tu ficas às vezes muito admirado.
A doçura, o sumo sob a pele de veludo,
que por verme ou ave avoada jamais foi tocado.

Há árvores que são adotadas por anjos,
regidas por jardineiros em esmerados arranjos,
são férteis, nos servem, mas não são de ninguém.

Nós, com sombras e ardis, nunca iremos além.
Pois se maturamos cedo murchamos depois
e jamais perturbaremos a paz desses verões.

Rainer Maria Rilke

14/10/07 - José

Bela bailarina - trasformas em dança
o gesto efêmero, árvore de movimento.
O grad-finale, em turbilhão, alcança
toda vibração do ano, num só momento.

Não florescem para que tal vibração
cercasse o seu cume silente? Soberana,
não foi ela o calor, o sol, o verão,
o calor imenso que de ti emana?

Mas tua árvore de êxtase também gera vida.
Não seus serenos frutos: o residente vaso,
e o pote listrado da forma definida?

E nas imagens: um desenho que não se turva?
Esta que tua escura sobrancelha, no caso,
rabisca nas curvas da própia curva?

Rainer Maria Rilke

16 abr - ♪Letícia

Mesmo que o mundo mude velozmente,
como nuvens num mosaico,
tudo o que é perfeito tende
de volta ao arcaico.

Sobre a mudança e o andar,
ampla e livre, inda perdura
tua voz que vibra no ar,
ó Deus da lira pura!

Nem a dor aqui se encerra,
nem do amor sabemos a sorte;
nem o temor do exílio da morte,

nada disso está desvendado.
Somente o canto da terra
será santo e celebrado.

Rainer Maria Rilke

12 mai - ♪Letícia

Respirar-te inteiro - poema aceso!
Pedaço do mundo, sempre em seguro
equilíbrio mesmo. Contrapeso,
no qual, com ritmo perduro.

Onda única em cujo mar,
moroso e sereno, fui transformado;
tu, o mais raso dos mares, meu lugar:
espaço por fim conquistado.

Quantos pontos deste espaço estiveram assim
dentro de mim? Algumas brisas
e ventos são como filhos para mim.
Conheces-me, ar, ainda pleno de melodia?
Tu, pura casca outrora lisa,
curvatura e folha de minha poesia.

Rainer Maria Rilke

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como a madrugada produz incêndios!

FUNDAMENTAL: Chomsky debulha a manipulação dos meios

Auroras