Conversas com gênios


Conversas com gênios O jovem escritor australiano consegue "desentocar" mestres da literatura mundial, como Saramago, Umberto Eco, Carlos Fuentes, e fazer um livro refinado e empolgante

Ronaldo Mendes

Paul Auster, um dos grandes nomes da literatura norte-americana contemporânea, não escreve seus livros numa máquina de datilografia. Tampouco usa os modernos computadores. Ele, aos 63 anos, autor de obras como a Trilogia de Nova York, Desvarios no Brooklin, Homem no escuro, ainda escreve à mão. Claro que tudo depois vai para a tela digital. Mas os diálogos, pensamentos e personagens, estão antes lá, na ponta do lápis. A confissão consta do livro de Ben Naparstek (1), Encontro com 40 grandes autores, lançado agora no Brasil pela editora portuguesa LeYa.

A façanha de reunir perfis de importantes nomes da literatura mundial foi realizada pelo jovem australiano Ben Naparstek, de apenas 24 anos. Ele, formado em artes e direito na Universidade de Melbourne, na Austrália, colaborou para diversos veículos, escrevendo geralmente sobre literatura. Muitos desses textos estão presentes na obra, que marca sua estreia como escritor.

Dividido em duas partes, ficção e não ficção, Encontro com 40 grandes autores surpreende pela reunião de nomes como José Saramago, Umberto Eco, Carlos Fuentes, Haruki Murakami, além do já citado Paul Auster. “Sempre me esforço por manter um olhar cético ao fazer perguntas para pessoas muito mais destacadas do que eu”, diz o australiano no prefácio do livro. “Tento evitar ser seduzido por sua inteligência ou charme, para poder entender as idiossincrasias e o universo emocional que produziram suas obsessões intelectuais e criativas.”

Apesar de todos esses “cuidados”, Ben Naparstek mostra uma maturidade incrível ao redigir um texto. Quem o lê, pode até se surpreender ao se deparar com a cara de menino nas fotos de divulgação, mais parecido com um vocalista de uma boy band do que um literato. Afinal, com pouco mais de duas décadas de vida, quem teria conhecimento suficiente para discorrer sobre filosofia, literatura e política?

Outsiders

Todas as entrevistas que resultaram nos perfis de Encontro com 40 grandes autores — escolhidos entre mais de 100 — seguiram diferentes padrões. Alguns receberam Ben em sua própria residência. Outros em hotéis, recantos na montanha e até mesmo por e-mail. Uma coisa, no entanto, segue a mesma linha: os escritores (ou personagens, neste caso) são figuras que não habitam grandes cidades e vivem reclusos em seus mundos.

Autor de Neve sobre os cedros (adaptado para o cinema em 1999 por Scott Hicks), David Guterson personifica bem essa afirmação. Natural de Seattle, nos Estados Unidos, ele vive em uma ilha próxima à cidade. Foi lá, inclusive, que os quatro filhos do escritor aprenderam a ler e a escrever, sob os olhos atentos da mãe, Robin. Outro exemplo é o austríaco Peter Handke, que anda “pela floresta, colhendo cogumelos selvagens e frutas silvestres”. Aos 66 anos, ele vive na cidade francesa de Chaville, que Ben descreve como “sonolenta” e “quase pastoral.”

1 - Carreira agitada
Nascido em Melbourne, na Austrália, em 1986, Ben Naparstek fez mestrado na Johns Hopkins University, em Baltimore, nos Estados Unidos. No retorno para o país de origem, trabalhou como editor na revista The Monthly. Atualmente, é coeditor — ao lado de Justin Clemens — da revista The Jacqueline Rose Reader.

Trecho do perfil de José Saramago no livro Encontro com 40 grandes autores, de Ben Naparstek

“Em Estilo sadio (2006), Edward Said sugere que a aproximação da morte frequentemente provoca nos escritores uma de duas reações. Alguns assumem a imagem popular do velho sábio, cujo trabalho reflete uma nova serenidade e reconciliação com o mundo. Para outros, o comprometimento da saúde se manifesta como contradição e discórdia insolúveis, levando-os a reabrir questões incômodas e complexas de significado e identidade.

No livro de José Saramago As intermitências da morte, a morte não é apenas o personagem central, mas também a principal personagem. Publicado em português, em 2005, o livro foi traduzido para o inglês em 2008, por Margareth Jull Costa. Agora, aos 86 anos, o romancista parece quase parodiar a obsessão pela morte de um escritor cujos olhos estão voltados para a ampulheta. No entanto, ao personificar comicamente a Grande Foice como uma mulher, estará Saramago adentrando suavemente a noite ou tramando uma rebelião inútil contra a injustiça da mortalidade?”


Fonte: CB

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