Cantos de Muros, de Câmara Cascudo


"No canto do muro tijolos quebrados, cobertos pelos cacos de telhas ruiva, aprumam-se numa breve pirâmide de que restos de papel, pano e palha disfarçam as entradas negras da habitação coletiva desde o térreo, domínio dual de Titius, o escorpião, e de Licosa, aranha orgulhosa, até o último andar onde mora um grilo solitário e tenor. (...)

No meio do quintal a mangueira estende a galharia robusta, derramando sombra e agasalho. É uma árvore bem velha, alta e copada mas de frutos azedos e reduzidos. Aquela imponência ornamental basta para justificar a presença poderosa.

Depois do sapotizeiro há uma goiabeira esquelética e que teima, como fêmea obstinada na fecundação, em cobrir-se de goiabas amarelas de polpa rubra e doce. No fim, hirto, senhorial, importante, o mamoeiro sacode o estirado caule bem alto, com uma coroa de folhas imóveis, guardando o bando de mamões compridos e desejados pela lonjura. Mamoeiro, sapotizeiro e goiabeira estão registrados nos livros graves como Carica papaya, L., mas o fruto lembrando uma grande mama conservou o aumentativo. Achras sapota, L., e Psidium guayava, Raddi, fecham a relação sisuda e definitiva.

Ao pé do sapotizeiro há um montezinho de pedras e aí instalou seu escritório o Cavalo-do-cão que ainda não tomou conhecimento de pertencer aos Himenópteros pompilídeos, raça guerreira e milenar."

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