Moniz Bandeira: Brasil hoje tem uma dimensão econômica e política global

Residindo atualmente na Alemanha, o cientista político Moniz Bandeira é autor de mais de 20 obras, entre as quais Formação do Império Americano, Presença dos Estados Unidos no Brasil, bem como de Brasil, Argentina e Estados Unidos (Da tríplice Aliança ao Mercosul) e de O Governo João Goulart – As lutas sociais no Brasil (1961-1964), cujas reedições revistas e ampliadas estarão nas livrarias na próxima semana.

Segue trecho de longa entrevista que concedeu ao Portal do Partido dos Trabalhadores:

"A política externa brasileira implementada no Governo Lula tem-se destacado no mundo. No Brasil, enquanto alguns diplomatas ligados ao governo FHC e setores da mídia conservadora criticam o que consideram um distanciamento e até mesmo uma postura mais agressiva com relação aos Estados Unidos, outras vozes importantes saúdam este novo papel geopolítico desempenhado pelo Brasil. Que avaliação o senhor faz desse novo posicionamento do governo brasileiro no cenário internacional?

Há muitos setores da elite brasileira, inclusive alguns diplomatas aposentados e ressentidos, e grande parte da mídia conservadora, que ainda têm o complexo de inferioridade político-militar, de natureza e origem colonial, como observou o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães em sua importante obra Desafios brasileiros na era dos gigantes. Eles pretendem subordinar o Brasil aos interesses dos Estados Unidos. Entendem, como o estúpido e serviçal ex-chanceler no governo do general Humberto Castelo Branco, general Juracy Magalhães, que “o que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil”. Ignoram que o presidente Franklin Roosevelt só não conseguiu cumprir a promessa feita ao presidente Getúlio Vargas de colocar o Brasil no Conselho de Segurança da ONU devido à oposição da Grã-Bretanha e da União Soviética, porque percebiam o Brasil como satélite dos Estados Unidos.

Não obstante, mesmo quando dependia das exportações do café e estas do mercado americano, o Brasil sempre resistiu à predominância dos Estados Unidos, como demonstro documentadamente no meu livro Presença dos Estados Unidos no Brasil. O Barão de Rio Branco estreitou as relações do Brasil com os Estados Unidos, mas rejeitou qualquer subserviência, para a qual se inclinou o embaixador Joaquim Nabuco. Apoiou a oposição de Rui Barbosa à política discriminatória dos Estados Unidos, na conferência de Haia (1907), e declarou que “interesses superiores” levavam o Brasil a persistir na política de aproximação entre os dois países, “mas não somos amigos incondicionais, não podemos fazer sacrifício da nossa dignidade”.

Quando chefe da Missão brasileira na ONU, em 1947, Oswaldo Aranha, censurado pelo então chanceler Raul Fernandes de violar as “tradições diplomáticas” do Brasil, por não acompanhar os Estados Unidos numa votação para o Conselho de Segurança, respondeu: “A nossa solidariedade não pode ser nunca uma servidão” — escreveu a Raúl Fernandes. E acrescentou: “Não me prestaria a esse papel e, creio, nenhum brasileiro aceitaria essa missão.” Aranha considerava-se “amigo” dos americanos, “mas não caudatário do Departamento de Estado”, o que qualificou como “traição”. Esta lição de patriotismo é que os críticos da política exterior do presidente Lula devem aprender. Quem defende tal sujeição à política exterior dos Estados Unidos não está servindo aos interesses nacionais do Brasil.

O Brasil, se quiser afirmar-se como potência econômica, tem de inserir-se, soberanamente, e abrir o espaço na política internacional. Como várias vezes repetiu, na primeira metade dos anos 1970, o embaixador João Augusto de Araújo Castro, o Brasil “deve continuar a opor-se tenazmente a qualquer tentativa de contenção”, tanto mais que, no limiar de um pleno desenvolvimento econômico, o Brasil, dentre todos os países será acentuadamente mais prejudicado por uma “política de congelamento do poder mundial”. Esta, uma razão fundamental para que o Brasil não aceite, rejeite in limine o Protocolo Adicional ao TNP, que os Estados Unidos e demais potências agora lhe querem impor. É algo que atenta contra os interesses nacionais. O Brasil, como disse Araújo Castro, não pode aceitar limitações a qualquer aspecto do seu desenvolvimento econômico, “em homenagem a um duvidoso princípio de interdependência ou de supranacionalidade”. O objetivo primordial de sua política internacional – acentuou – é “a neutralização de todos os fatores que possam contribuir para limitar o seu poder nacional”. É isto o que faz o presidente Lula e terá continuidade com Dilma Rousseff, se eleita presidente da República."

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