Da simplicidade


Parecia desenvolver-se tediosa a manhã neste domingo.
O mar próximo, na bela Aracaju. Ondas sugam feixes de nuvens.
Mas onde a alma pularia?

Então voltei a ler "A eternidade e o desejo"

O trecho seguinte comprova que é mesmo na ausência de complexidade que mora a razão de tudo. Na palavra, nela, belamente esculpida, engendrada, escrita, lida, apreciada!
Li páginas e páginas do bom livro de Inês Pedrosa, de belíssima capa da editora Alfaguara, e divido com vocês algumas linhas saborosas.

**

(Palavras que lavram a terra e revolvem de luz os meus olhos sepultados. Palalavras, titubeantes. Preciso das tuas plavras, António Vieira, porque dentro delas o Sol e a Lua e as Estrelas e a Natureza ressuscitam em maiúsculas e com uma firmeza de recorte que nunca a minha retina conseguiu captar. Preciso das tuas palavras, mesmo quando são paladras, pedras ladras que atiras contra a forma bruta das coisas para as distorcer do teu jeito. Preciso da tua receita alquímica, Vieira, desse teu dom de ilusionista convicto, dessa tua capacidade para transfigurar a Fé em Razão Pura ou a Pura Razão em Profecia. Preciso desse talento que te fazia dobrar o tempo e o rosto da História à medida dos teus desejos, e considerar as derrotas de hoje como experiências da dor destinadas a ampliar o triunfo das vitórias futuras. Preciso das tuas palavras de pedra, Vieira, para amparar a precariedade do meu caminho.)

Inês Pedrosa nasceu em Coimbra, Portugal, em agosto de 1962. Trabalhou no rádio e na televisão e é colunista do semanário português Expresso. É autora de contos, crônicas, ensaios biográficos e antologias, e publicou os romances A instrução dos amantes (1992), Nas tuas mãos (1997) - vencedor do Prêmio Máximo de Literatura - e Fazes-me falta (2002). A eternidade e o desejo é o seu primeiro livro ambientando no Brasil.

Comentários

Sandra Leite disse…
"na ausência de complexidade que mora a razão de tudo"

Estou lendo o livro. E adorandoooo

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