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Mostrando postagens de janeiro, 2008

Enquanto, isso no blog do Luís Nassif, pau na Veja

"O maior fenômeno de anti-jornalismo dos últimos anos foi o que ocorreu com a revista Veja. Gradativamente, o maior semanário brasileiro foi se transformando em um pasquim sem compromisso com o jornalismo, recorrendo a ataques desqualificadores contra quem atravessasse seu caminho, envolvendo-se em guerras comerciais e aceitando que suas páginas e sites abrigassem matérias e colunas do mais puro esgoto jornalístico. Leia mais..."

"Que a poesia acenda uma luz qualquer"

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Em 2000, no CCBB, em Brasília, no lançamento de Toda Poesia, 9ª edição, comemorativa dos 70 anos de Gullar. " Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao sofrimento e o desamparo, acender uma luz qualquer, uma luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que nasce das maõs e do espírto dos homens ." (Ferreira Gullar)

Resquícios de outro Brasil

O blogue de Frederico Vasconcelos, da Folha Online, publicou hoje texto do procurador da República Vladimir Aras, que atuou nas investigações do chamado Caso Banestado. O membro do MPF reforça depoimento do juiz federal Sergio Fernando Moro ao blogue, em que o magistrado analisa os efeitos de eventual concessão, pelo Supremo Tribunal Federal, de habeas corpus (HC 8660) para anular decisão de vara especializada em crimes financeiros e lavagem de dinheiro. O trecho que segue sintetiza contundentes medidas tomadas pelas instituições republicanas contra desmandos comuns no Brasíl pré-2003, prova de que há em curso um processo de operação mãos-limpas a cargo do Estado brasileiro, cuja visibilidade é maior nas megaoperações da Polícia Federal: "A declinação de centenas de inquéritos policiais originais do caso Banestado de Foz do Iguaçu para Curitiba em 2002/2003, a concentração desses e de outros inquéritos na 2ª Vara Federal da capital paranaense em 2003 (uma das primeiras a ser espec

Lila lilás

( Minha flor, minha descoberta, meu mundo, minha Anantha, minha Lila. Sou como um guri. O guri que eu era, e que vivia a perambular pelos fundos da sala-de-aula, enquanto a Lila saltitava lá fora. E era um bem para mim o som, que varava a parede, dos sapatinhos amarelinhos dela. Eu a amava muito — para mim, amar era ver a garota sorrindo com uma fitinha nos cabelos soltos. Eu gostava dos cabelos soltos dela. E, presos, eu só via a fitinha e os olhos. Os dela eram negros. Nigérrimos. Sobretudo eu circulava, tímido, e não esbarrava nas cadeiras — porquanto, por vezes parecia tonto, perdido no descobrir o mundo. Estimulado pelo instante que achava ser só meu, invadia-me certa onda de não sei que espécie de lirismo — era gostoso aquele sentimento: mexia até com meus intestinos, e era doce a bile que a poesia que eu não sabia fazia. Mas a sirene tocava. Era um iooooooooóóóóóóóóóóónnnnn longo, ensurdecedor e molhado — lá pro fim ficavam os filetes nas orelhas da gente. Estivesse você onde es

Ainda sobre factóides e outras diatribes do povo que nos governava

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Para Paulo Henrique Amorim, do site Conversa Afiada, o PIG criou a epidemia de febre amarela com um propósito bem específico. Leia mais...

Júlio Verne: a ciência e o homem contemporâneo

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De Michel Serres, tradução de Mônica Cristina Corrêa. Bertrand Brasil, 192 páginas, R$ 35. Editions Le Pommier/Editora Bertrand/Reprodução O subtítulo "Diálogos com Jean-Paul Dekiss" explica que os textos deste volume reúnem os diálogos entre o filósofo francês, autor do livro, e o estudioso da obra de Júlio Verne, criador e diretor de um centro de estudos voltado para a obra do autor de 20 mil léguas submarinas. Verne usou como ninguém, em seus romances de aventuras, a ciência como informação cultural. Hoje, Serres considera que a literatura se distancia cada vez mais de tal função. Verne foi capaz de antecipar descobertas e invenções que levariam séculos para se concretizar, e o fazia de maneira poética e ao mesmo tempo cheia de sentido lógico. Fonte : Pensar, Correio Braziliense, 26/01/2008

A ponta do iceberg

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Com a proliferação dos blogs e a multiplicação dos estilos, a poesia se expande e ganha vitalidade Antonio Miranda Especial para o Correio Carlos Vieira/CB - 24/10/07 Miranda: quanto maior a base, maior a parte visível "Curiosamente, hoje, o artigo do dia é poesia. nos bares da moda, nas portas do teatro, nos lançamentos, livrinhos circulam e se esgotam com rapidez. (...) Mesas-redondas e artigos de imprensa discutem o acontecimento. O assunto começa — ainda que com resistência — a ser ventilado nas universidades. (...) O fato é que a poesia circula, o número de poetas aumenta dia a dia e as segundas edições já não são raras. Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um círculo paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia. Planejadas ou realizadas em colaboração direta com o autor, as edições apresentam uma face charmosa, afetiva e, portanto, particularmente funcional. (...) o

A Novela X

O blogue Novela agora é A Novela X . O endereço também mudou . Em breve, o prometido capítulo mensal.

As agruras dos invernos do coração

Namorou, na tenra idade Lírios primaveras sem-fim Casou Descasou Com outras conheceu a maciez dos lábios e a agrura dos invernos do coração. Por fim, outra o enlaça. Pérfida. Cléopatra. Aliança. E o fim. Que fazer? Pôr termo em tudo? Não. O amor, erva daninha terrível, está em toda parte, Mesmo em pedras e musgos, nas cachoeiras da Chapada.

Machado de Assis e a questão das cotas raciais

Postado no Blog do Rovai (Editor da Revista Fórum) (23/01/2008 22:15) Uma decisão da Justiça Federal suspendeu o sistema de cotas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A ação, movida pelo Ministério Público Federal, foi deferida pelo juiz Gustavo Dias de Barcellos, da 4ª Vara. Essa triste decisão foi celebrada em muitos artigos de ditos intelectuais, em muitas colunas de badalados articulistas. Gente que acha que as políticas afirmativas são injustas porque podem dividir o país e criar uma divisão racial. Certo, somos todos idiotas. Os negros só são mais burros e vagabundos, por isso têm menor escolaridade e ganham menos que os brancos. Só por isso. De qualquer maneira, o que me interessa aqui é comentar um texto que o editor executivo de Fórum, Glauco Faria me repassou. Trata-se de artigo do sociólogo, professor-adjunto da UFSCAR, Richard Miskolci. O título é: Machado de Assis, o Outsider Estabelecido. Não sei o que pensa Miskolci sobre a questão das cotas, mas nesse seu

Bem no fundo do sonho estão os sonhos

Jorge Luis Borges Bem no fundo do sonho estão os sonhos. A cada Noite quero perder-me nas águas obscuras Que lavam o dia, mas sob essas puras Águas que nos concedem o penúltimo Nada Pulsa na hora cinza o obsceno portento. Pode ser um espelho com meu rosto distinto, Pode ser a crescente prisão de um labirinto Ou um jardim. O pesadelo sempre atento. Seu horror não é deste mundo. Causa inominada Alcança-me desde ontens de mito e de neblina; A imagem detestada perdura na retina A infama a vigília como a sombra infamada. Por que brota de mim, quando o corpo repousa E a alma fica só, esta insensata rosa?

Fernanda

Letras que ele sopra Como um dente-de-leão que o vento leva O nome no olho felino Os cabelos e o sorriso dela Eva Mulher sagrada perfil retilíneo Arte! Afrodite Astarte Ísis

O CNJ também faz sua parte

O Conselho Nacional de Justiça - CNJ vai criar um sistema nacional de busca eletrônica nas bases de dados dos cartórios e de penhora eletrônica de imóveis. A proposta é fazer uma versão similar ao sistema Bacen-Jud, que permite a penhora on-line de contas bancárias, digitalizando e unificando as diferentes bases de dados de todos os cartórios do país, dentre eles os de registro de imóveis, de notas, de registro civil e de protestos. Além da possibilidade de penhora e de bloqueio de bens em ações de execução, o sistema permitiria a busca de diversas informações úteis em investigações que envolvem o crime organizado . O CNJ foi criado por meio da Emenda Constitucinal n. 45/2004. Trata-se órgão fundamental no controle da atividade do Poder Judiciário. O Brasil, hoje, é outro, por conta de sua forte atuação.

Um deputado distrital que honra o mandato

Na primeira tentativa, em 1998, foram pouco mais de quatro mil votos. Na eleição seguinte, dez mil. Na última, ele conseguiu 25.800 votos. José Antônio Reguffe (PDT), 34 anos, é deputado distrital. “Foi uma emoção muito grande. Eu podia até imaginar que seria bem votado. Mas, jamais poderia imaginar que pudesse reunir mais 25 mil votos e que ficasse entre os três mais votados”, confessou o deputado distrital, à época da eleição. Jornalista e economista, agora Reguffe investe na política. A principal meta? Nas palavras dele, moralizar a Câmara Legislativa (como é chamada a Assembléia Legislativa no Distrito Federal): “Alguém consegue explicar por que um deputado distrital tem uma verba de gabinete de R$ 92.100 por mês? Para contratar funcionários não concursados? Isso é estatização de cabo eleitoral!”, critica o deputado. E nessa “faxina moral” o parlamentar luta por projetos polêmicos: “Fim dos salários extras para deputados, para que todo deputado receba 13 salários como qualquer trab

Gláucia*

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A poesia ronda-lhe o nome Aspira-lhe a face penetra-lhe os poros da pele morena A música é paz no sorriso largo e belo. Gláucia escreve, madrugada, lua cheia. O piano à espera das notas que sempre virão. Gláucia: uma flor, um poema, um canto de pássaro que perpassa histórias, mares, tal como retinido foi, há séculos; e, hoje, ecoa, belo, pujante. Um sopro de canto tempestuoso. Rebento de tanta música do Criador! * para minha linda amiga poeta

Factóide

Tudo não passa de novo factóide do Partido da Mídia. Não há epidemia de febre amarela. Até mesmo o Fantástico, da Globo, deixou escapar há uma semana, por meio de fala do médico Dráuzio Varela, que o que há é um fenômeno da imprensa, e nada de surto. As pessoas que morreram contraíram o vírus em regiões de risco, em área rural (silvestre). Vacinar é importante. A imunidade perdura por dez anos. Mas a denúncia suicida da oposição (por meio de jornalistas e âncoras habilmente escalados) pode levar a sérios problemas de saúde pública! Como é o caso de pessoas internadas, hoje, por terem, novamente, se submetido à vacina, mesmo ainda estando imunes. Segundo o Ministério da Saúde, há 31 casos de reações adversas à vacina contra febre amarela por superdosagem. Estas pessoas tomaram uma nova dose de vacina antes que a anterior expirasse. Em dois destes casos, os pacientes estão internados em estado grave. Existe um caso de uma pessoa que tomou a vacina anualmente desde 2004. Entre os sintomas

Machado de Assis e Fellini

Tinha luz própria. Explorava sozinha a calmaria e a zoada alheias. Em meus sonhos, estávamos no Cine Academia, em Brasília, inebriados de Kurosawa e Kiarostami, ou no Jardim Botânico, explorando pétalas exóticas. Que alegria ver os joões-de-barro serelepes, após a chuva nova. Eita! cheirinho bom de chuva, e tome sorriso e dentes alvos de Anantha, e o perfume de sua pele, e o olhar penetrante, meigo, forte, perigoso! Jamais compreendi como Machado pôde criar para Bentinho uma Capitu tão dissimulada, a ponto de os cabelos dela, ele de costas, o apunhalarem, ela querendo tocar-lhe as mãos, mas Machado não nos diz da vontade dela, e Bentinho pouco depois ganha o beijo tão esperado por nós, que, ávidos, avançávamos cada linha, cada parágrafo, cada folha, ansiosos pelo encontro de Bentinho com Capitu. Isso Anantha disse-me ter pressentido: a mágica do ósculo, a poesia do doce encontro diante do velho espelho que tudo testemunhou. Fellini, infelizmente, não gravou o episódio; poderia exibir a

Sálvia, chora

libertar a poesia de drummonds e gullares! eia! e pô-la na boca do estopim a explodir a bala dos cárceres! o poema é branco e pálido? é o poema: a avenca que explode da nuvem e, saindo-luz pelos ares, sálvia , chora!

Claustro

Se temes as estrelas Se evades do sol Retira-te por cem dias do claustro da vida Que te rodeia e volta a sonhar Ao lado de passarinhos peixes nuvens E assovia e reza e canta baixinho chamando a chuva

Brasília, passeata, 2001

crianças e mulheres cansadas no encalço dos capitães-maridos, como se andejassem por rodovias, cidades e vilas, portando todos, porém, estranha esperança: a de desapear um dia os larápios que mal-governam a Pátria adorada do hino!

Em curso, caudalosa operação "Mãos Limpas"

Wanderley Guilherme dos Santos , no mesmo artigo mencionado na postagem anterior, lembra que está em curso no Brasil pós-2002 processo de "mãos limpas", sem exibicionismos publicitários ou diferenciação institucional, ofuscado, entretanto, pela visibilidade extravagante dos casos em que os supostos culpados conseguem escapar por entre as persianas dos calhamaços jurídicos. "O Brasil é o único país continental que emerge para o desenvolvimento econômico em condições de normalidade democrática. Não conta com o unipartidarismo e o recurso de ilimitada coação como a China, com a corrupção econômica e política como iniciativa de Estado como a Rússia, nem com o disciplinado conformismo de uma sociedade de extremada estratificação social como a Índia. Ao contrário. O cenário político é ultrapovoado por partidos e grupos de interesse de toda espécie e a simples idéia de um corte nas verbas das políticas distributivas dos parlamentares é denunciada como ameaça de tirania. Desde o

Mídia ruim

Wanderley Guilherme dos Santos , cientista político e membro da Academia Brasileira de Ciências, definiu, impecavalmente, o papel da mídia no Brasil pós-2002, em artigo publicado no jornal Valor Econômico de 18/01/2008. "O grande salto à frente nacional conta com a hostilidade da mídia e a incompreensão da quase totalidade da elite intelectual. A mídia ruim expulsa a mídia boa e a qualidade da imprensa brasileira, como jornalismo informativo e interpretativo, decaiu consideravelmente, se comparada com a qualidade da imprensa antes do golpe de 1964. A lembrança vem ao caso porque possivelmente foram os 21 anos ditatoriais a principal causa da deterioração tanto do jornalismo quanto da representação parlamentar. Paga-se o preço, em cultura e inteligência, não apenas em pobreza, pelo descaso seletivo e arbítrio generalizado comuns às ditaduras. Repórteres que mal entendem alguma coisa a respeito do que estão, a mando, reportando; entrevistadores cujo grau de desinformação provoca o e

Transformação da linguagem

“O poeta moderno, que devolveu a linguagem literária à sua condição prosaica, realiza a poesia pela transformação dessa linguagem em linguagem poética. Na concepção da nova poesia, o que há de fundamental e permanente é a linguagem mesma - a língua - que será, neste momento, poética e, naquele outro, prosaica. Essa alternância se dá no âmbito mesmo do poema, já que em nenhum poema todos os elementos da linguagem se transformam em ‘poesia’, se consomem nela: a base da expressão são as relações conectivas, sintáticas, gramaticais, sem as quais não existe a linguagem verbal. Essas relações implicam um discurso, um tema. A poesia que aflora nesse discurso é produto de um processo complexo de que participam todos os elementos do poema. A falsa compreensão desse fenômeno é que gerou a superstição da poesia pura - de que o concretismo, que deveria se chamar de fato abstracionismo, foi o mais recente exemplo - que não é mais do que a tentativa de eliminar do poema os elementos ‘prosaicos’, de

Leia

O post STF, qual a extensão da liberdade de culto? está bem aí embaixo.

Uma navegada e....

Claro que há inteligência no Orkut. Nas comunidades. Pérolas que li há pouco (depois organizo, se me permitem os amigos leitores, a meia dúzia que, eventualmente, ancoram, cá em Quase Hai , como diria o M.A.): DESENCONTRÁRIOS Paulo Leminski Mandei a palavra rimar, ela não me obedeceu. Falou em mar, em céu, em rosa, em grego, em silêncio, em prosa. Parecia fora de si, a sílaba silenciosa. Mandei a frase sonhar, e ela se foi num labirinto. Fazer poesia, eu sinto, apenas isso. Dar ordens a um exército, para conquistar um império extinto. HAROLDO DE CAMPOS fragmento e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso e aqui me meço quando se vive sob a espécie de viagem o que importa não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo a escrever mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura por isso recomeço por isso arremeço por isso teço escrever sobre escrever é o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites miluma- páginas ou ma

Mrs. Dalloway

Virginia Woolf Trecho de Mrs. Dalloway "Horrível, pensava, adivinhar mover-se nela aquele monstro brutal! ouvir ramos estrelejando e sentir aqueles cascos nas profundezas dessa floresta cheia de folhas, a alma; nunca estar inteiramente alegre, nem inteiramente segura, pois a qualquer momento o animal podia estar movendo-se; ódio que, especialmente depois da sua doença, fazia-lhe sentir um doloroso arrepio na espinha; causava-lhe uma dor física, todo o prazer da beleza, da amaizade, do bem-estar, de sentir-se amada, de tornar a casa deliciosamente acolhedora, tudo vacilava e pendia, como se na verdade houvesse um monstro a roer as raízes, como se toda a panóplia do contentamento não fosse mais que amor-próprio! e aquele ódio!"

STF, qual a extensão da liberdade de culto?

O Texto Constitucional prevê liberdade de culto. Contudo, predomina hoje em algumas denominações evangélicas abominável apropriação de almas cansadas, deprimidas, combalidas. Usam e abusam da boa-fé de brasileiros para "cobrar", de modo abusivo, dízimos e ofertas. Exemplificando, o indivíduo que necessita de tratamento clínico contra forte depressão é instado a "doar para Deus" parcos recursos financeiros de que dispõe, abandonando, de modo inocente (e incentivado pela irresponsabilidade do intermediário "divino"), tratamento que esteja em curso. Templos multiplicam-se, aos milhares. E as igrejas a cada dia adquirem novas concessões de TV e rádio. A propósito, no Youtube há excelentes vídeos sobre a prática condenável de algumas igrejas. Uma dica: digitem os nomes de conhecidos reverendos e bispos na busca.

Kundera*

"Tenho sempre diante dos olhos Tereza sentada sobre um tronco, acariciando a cabeça de Karenin, e pensando no desvio da humanidade. Ao mesmo tempo, surge para mim uma outra imagem: Nietzsche está saindo de um hotel em Turim. Vê diante de si um cavalo, e um cocheiro espancando-o com um chicote. Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços. Isso aconteceu em 1889, e Nietzsche já estava também distanciado dos homens. Em outras palavras: foi precisamente nesse momento que se declarou sua doença mental. Mas, para mim, é justamente isso que confere ao gesto seu sentido profundo. Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão por Descartes. Sua loucura (portanto seu divórcio da humanidade) começa no instante em que chora sobre o cavalo. É este Nietzsche que amo, da mesma forma que amo Tereza, acariciando em seus joelhos a cabeça de um cachorro mortalmente doente. Vejo-os lado a lado: os dois se afastam do caminho no qual a humanidade, "

Origens de uma discriminação

Em artigo com o titulo "A linguagem do preconceito", publicado na Revista do Brasil , edição deste mês, Bernardo Kucinscki , escritor e professor de jornalismo na USP, mostra como uma parte dos jornalistas julgam o grau de conhecimentos do presidente Lula. Análise mais precisa, impossível. Leia a íntegra na Revista do Brasil n° 20.

Surto do Partido da Mídia

O respeitado médico Drauzio Varella, avisou, domingo, na TV: "Não há motivo para pânico." E, hoje, na Folha de S. Paulo: "É uma situação normal". E quando foi perguntado pelo repórter "Dá para falar em surto?", Dr. Drauzio responde: " Acho que não. O que acontece é um fenômeno de imprensa..." Um corre-corre foi causado pela suspeita de que estariam ocorrendo mortes por febre amarela. Até agora, o Ministério da Saúde só confirma dois casos da doença. É o Partido da Mídia em ação.

Sonhos entrecortados*

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" — Vânia — disse ela. — Olha, Vânia, foi tudo um sonho! — O que é que foi um sonho? — perguntei-lhe. — Tudo, tudo — respondeu ela. — Tudo quanto se passou este ano, Vânia. Por que teria eu destruído a tua felicidade? E eu li no seu olhar: 'Podíamos ter vivido sempre felizes juntos!'." (Fiódor M. Dostoievski, in Humilhados e Ofendidos.) Escrevo esta novela quando o sol desaparece, ou logo após seu nascimento, anunciando ao mundo novos pavores e delírios. Nestas horas, esqueço a saudade dorida, e, revivendo o amor, vivo. Cabelo e barba, contudo, crescem assustadoramente. As noites passam brancas, povoadas de torrencial insônia e entrecortado sono. Penso, certas horas, que morri — notadamente quando Anantha evoca-me a imagem do rapaz com a flauta acompanhando os versos finais do poema da menina sardenta. Sonhos entrecortados. Repetidos. Um, em especial, surge, desenovela-se, e, indo-se e retornando nova vez, embaralha-se, confundindo-me. Geralmente é elaborado em noit

Asas do Desejo (Der Himmel ünder Berlin, de Wim Wenders, ALE, 1987)

No desenrolar dos acontecimentos contemporâneos, a humanidade por si só assistiria sua autodestruição. Até Deus (quem diria?), profundamente desapontado, decide dar às costas ao mundo para sempre. No entanto, alguns anjos se rebelam e preferem tomar partido do Homem, que merece uma segunda chance. Em sua fúria (quem diria?), Deus expulsou tais anjos do paraíso para a cidade que, até então, era considerada a pior de todas na Terra: Berlim. E tudo isto aconteceu no final da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha estaria completamente devastada pelos efeitos da guerra e que, mais tarde, veria o seu próprio território dividido por um muro que separaria os comunistas dos capitalistas. Então, esses “anjos caídos” estariam aprisionados a essa cidade, sem qualquer chance de perspectiva, sem poder iluminar os homens, sem poder intervir no curso da história... Assim seria o prólogo de Wim Wenders para Asas do Desejo, considerado um dos melhores filmes do século XX e um dos mais comentados até

Tarde invernosa

Tarde invernosa, familias à noite nos lares. Vento e pétalas evadidas do sono. Exercício poético. Caderno inventa rimas e frutos-poemas brotam.

Ratzinger fala sobre o Inferno

Mino Carta (texto postado em 10.01, no Blog do Mino ) Não tenho especial apreço pelo papa e pela instituição medieval mais longeva do mundo, a mais duradoura monarquia por direito divino. Mais do que isto: dirigida ao empíreo pelo próprio Deus. O preâmbulo é necessário ao dizer que li ontem no Corriere della Sera , o melhor diário em circulação (embora mirrada) no País, um texto assinado por Joseph Ratzinger em março de 1968. Faz parte de um livro recém-lançado na Itália pela Editora Rizzoli, intitulado Porque estamos ainda na Igreja . Reúne discursos e aulas do papa atual, pronunciados e ministradas ao longo de quarenta anos na Academia católica da Baviera. E agora confesso: trata-se de um texto magistral, na forma e no conteúdo. Tese central: o Inferno é a solidão. O homem teme a morte porque ela é o momento extremo da vida, aventura irremediavelmente solitária. Até na cruz, o próprio Jesus desce ao Hades, aos Ínferos, com seu grito de morte: "Meu Deus, meu Deus, porque me aban

O Fulgor?

Sim. O Fulgor. O Estado do mundo. Uma súmula. Breve, pela Almedina, de Portugal.

O Fulgor. Contagem regressiva

O livro o estado do mundo (e seu dossiê), cujas provas, revistas e corrigidas, se encontram na posse do seu editor, a ALMEDINA , será lançado no dia 21.03.2008, DIA MUNDIAL DA POESIA .

Palavras de Wolf

Quem será que Virginia Wolf (a incomparável escritora cuja foto encima Quase hai ) lembra? "No meio da noite, um grito dilacerante rompeu o silêncio; depois, ouviu-se como que um vozear, a seguir um silêncio de morte dominou tudo. O que pude divisar, da minha janela, foi uma haste do lilás do jardim, pendendo imóvel sobre a estrada. Era ainda noite escura. Não havia luar. O grito emprestara às coisas um aspecto singular. Quem gritara? Por que gritara ela? Tratava-se de uma voz de mulher, quase inexpressiva, quase assexuada, pela violência da emoção. Dir-se-ia a natureza humana gritando contra qualquer inexplicável iniquidade, contra qualquer indescritível horror. Seguiu-se ao grito um silêncio de morte. As estrelas cintilavam nítidas, serenas, os campos dormiam tranqüilos e as árvores continuavam imóveis; no entanto, por toda a parte se espalhara um sentimento de culpa, todas as coisas se sentiam responsáveis por não sei que tremendo crime. Tinha-se a sensação de que era imprescin

Tata, o carro de US$ 2,500.00

Quase hai não é exatamente um bloque sobre carros. E o que literatura tem a ver com o Tata Nano, o carro popular lançado na Índia pelo megamilionário filantrópico (dizem que isso é possível!) Ratan N. Tata? Bem, em princípio deve-se criticar a colossal transferência de renda de brasileiros para montadoras que supostamente fabricam carros populares. E, na seqüência, as financeiras assaltam, com juros extorsivos, e planos que obrigam por cinco, seis ou sete anos. Então, o Tata Nano é uma feliz novidade. O chamado Carro do Povo foi construído para atender aos requerimentos de segurança e às normas de emissões, muito econômico e ambientalmente correto. O homem que idealizou o Nano, Ratan N. Tata, fez pessoalmente a apresentação do carro na cerimônia de abertura do salão indiano. “Eu observava famílias inteiras andando de moto. O pai dirigia a motoneta, seu filho mais jovem ficava diante dele e a esposa atrás, carregando um bebê no colo. Isso me levou a pensar se não seria possível concebe

Sorte, grande sorte minha

É sempre bom lê-lo: "Contei noutro lugar como e porquê me chamo Saramago. Que esse Saramago não era um apelido do lado paterno, mas sim a alcunha por que a família era conhecida na aldeia. Que indo o meu pai a declarar no Registro Civil da Golegã o nascimento do seu segundo filho, sucedeu que o funcionário (chamava-se ele Silvino) estava bêbado (por despeito, disso o acusaria sempre meu pai), e que, sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude, decidiu, por sua conta e risco, acrescentar Saramago ao lacónico José de Sousa que meu pai pretendia que eu fosse. (...) Sorte, grande sorte minha, foi nao ter nascido em qualquer das famílias da Azinhaga, que, naquele tempo e por muitos anos mais, tiveram de arrastar as obscenas alcunhas de Pichatada, Curroto e Caralhana." José Saramago, As Pequenas Memórias, 2006

Raduan III

Dois outros textos do livro [ Menina a Caminho ], Hoje de madrugada e O ventre seco , de 1970, escavam com palavras exatas as feridas de amores findos. O brevíssimo Aí pelas três da tarde , de 1972, relembra sem citar a redação do extinto semanário paulistano Jornal do bairro , fundado por Nassar e seus irmãos em 1967, numa empreitada jornalística que teve importante papel político e cultural. No último conto de Menina a caminho , o irônico e impiedoso Mãozinhas de seda , escrito em 1996 para o segundo volume dos Cadernos de Literatura Brasileira, do Instituto Moreira Salles, dedicado ao escritor, mas não publicado a seu pedido, Raduan Nassar observa as mãos de "certos intelectuais", notando que muitos deles parecem fazer o uso intensivo da pedra-pome. "Eruditos, pretensiosos e bem providos de mãozinhas de seda... Mas sem rosto e entregues a um rendoso comércio de prestígio, um promíscuo troca-troca explícito, a maior suruba da paróquia." O auto-exílio literário do

Raduan II

Composta por um romance, uma novela e os textos breves de Menina a caminho , a vigorosa e concisa obra de Raduan Nassar, que o escritor já definiu como "uma obra e meia", exibe na precisão de sua escrita uma crítica ao estabelecido e um desencanto com a hipocrisia do mundo. No seu primeiro trabalho de ficção, escrito no início dos anos 60 e que dá título ao novo volume [ Menina a Caminho , lançado em 1997 pela Companhia das Letras]- publicado anteriormente em duas coletâneas, uma alemã e outra mexicana, de contos brasileiros e numa edição não-comercial da Companhia das Letras -, o leitor acompanha o passeio errante de uma garota sem nome por uma pequena cidade interiorana, certamente a natal Pindorama do romancista. Através do seu olhar fragmentado, percorre a rua principal, uma barbearia, a sala de aula, um bar e se depara com a brutal realidade de personagens amesquinhados, numa narrativa cinematográfica que culmina num belo e dramático desfecho. Fonte: Revista Istoé, 9.7.9

Raduan I

Sétimo filho de imigrantes libaneses, numa família de dez irmãos, Raduan Nassar - que deixou o curso de Direito para se formar em Filosofia - fez sua estréia na literatura em 1975, com o romance Lavoura arcaica . Uma versão transgressiva da bíblica parábola do filho pródigo, o livro expunha aos leitores uma sofisticada prosa poética de rara força e densidade, que mesclava o lírico e o trágico num drama de contestação familiar. Três anos depois, o escritor lançou a novela Um copo de cólera , fervilhante narrativa de um confronto verbal entre amantes, em que a fúria das palavras cortantes se estilhaçava no ar. O embate conjugal ecoava o autoritário discurso do poder e da submissão de um Brasil que vivia sob o jugo da ditadura militar. Através destas duas criações impactantes, Nassar foi descoberto e elogiado pela crítica, que ressaltou o estilo seguro - enxuto e singular -, burilado com paixão por um autor estreante que surgia como o senhor absoluto de sua linguagem. Em 1984, consagrado

Vem do quadro do avô, de longas orelhas*

Só vou perturbar-me com o alarido quando começo a compreendê-lo: vem de tempos antigos; vem de frestas na janela dos dias, meses e anos; perpassa decerto são-joões, carnavais, natais sem presentes e adorações ao Senhor dos Aflitos, no Cantinho, vilarejo que acolhe o povo no dia 2 de julho com danças, música de sanfonas luminosas, litros de cachaça, botes [1] de vela na Igrejinha e quilos de poeira egressa do barro vermelho, apesar de o carro-pipa derramar com profusão a boa água do rio Grande na praça; vem a barulheira, a murmuração (começo a conhecer a zoada) de velhos espelhos partidos, de penteadeiras de ébano; vem de enciclopédias; vem, como a imaginação de Dom Quixote, transfigurada nas peripécias dele e do fiel escudeiro, de tomos antiqüíssimos, habitados por cavaleiros e armaduras; vem do quadro do avô, de longas orelhas; vem do armário e das compoteiras de caju; vem do piano que tocava na igreja, roubando-me o sono durante a missa, dando-me por vezes regozijo pela harmonia das

Afobação em sentinela pode ser ruim*

Dona Nenen do Cravinho luta contra o sono que vem com a tarde macia. Quer é pensar no caixão, na carneira, na mortalha completa, nos botes de vela, que já são em número de vinte; gosta de matutar sobre os preparativos para o grande dia. A fronte retesa, nessas horas. Dará conta de cuidar de tudo até o último momento? E quando chegar a malfadada hora? Quem a banhará? Não esquecerá de perfumá-la com alfazema? Será que a penteará com carinho, sem quebrar os cabelos delicados? A cama estará asseada? Terão cuidado de não deixar homem no quarto? Meu Deus! Vai é deixar tudo pronto, em ponto de bala — como diria o bom Gustavo. Melhor se prevenir. Afobação em sentinela pode ser ruim. E o café para servir às amigas no velório? Quem o coará? Pode convidar Finfilóquia, ou a sobrinha que mora em Wanderley, para cuidar do café e fazer sala às visitas — as últimas, e por isso mesmo merecerão muita atenção. É, assim será, ou uma ou outra. Contudo, comprará mais um vidrinho de alfazema, para o caso de

Luanda

Enfim passei na livraria Café com Letras, para buscar Os Cus de Judas . Já estava com receio de a Luíza Neiva, livreira e amiga, reclamar. Fiz a reserva do livro há quase um mês. Chegou há três semanas. Busquei ontem. Assim António Lobo Antunes (um monstro literário, por certo!) introduz o capítulo C : "Luanda começou por ser um pobre cais sem majestade cujos armazéns ondulavam na humidade e no calor. A água assemelhava-se a creme solar turvo a luzir sobre a pele suja e velha que cordas podres sulcavam de veias ao acaso. Negros desfocados no excesso de claridade trémula acocoravam-se em pequenos grupos, observando-nos com as distracção intemporal, ao mesmo tempo aguda e cega, que se encontra nas fotografias que mostram os olhos voltados para dentro de John Coltrane quando sopra no saxofone sua doce amargura de anjo bêbedo, e eu imaginava adiante dos beiços grossos de cada um daqueles homens um trompete invisível, pronto a subir verticalmente no ar denso como as cordas dos faquires

Incêndio

Há canções e há momentos Beijo tudo incendeia Voz anela pálida alma Olhar penetra, medeia Tamborilam suspiros Na vasta noite, na veia

B2

Independentemente de coloração partidária, deve-se reconhecer o esforço do Governo Federal em mudar a matriz energética do país. Há visível revolução tecnológica nesta área. Cerca de um terço do biodiesel brasileiro, que neste ano passou a ter 2% misturado ao diesel de petróleo (B2), é feito com matéria-prima produzida por famílias agricultoras. Isso faz com que o novo combustível tenha um papel importante na distribuição de renda, além de ser menos poluente por não ter enxofre e produzir menos fumaça preta.Ao comprar matéria-prima da agricultura familiar, os fabricantes de biodiesel recebem o Selo Combustível Social, que garante a redução de impostos, acesso especial aos leilões de biodiesel e melhores condições de financiamento junto ao BNDES e suas instituições financeiras credenciadas, ao BASA, ao BNB, ao Banco do Brasil S/A ou a outros bancos que ofereçam linhas especiais. Leia mais...

Germina

Lançado mais uma edição da excelente revista literária eletrônia Germina Literatura . Silvana Guimarães, também editora de Escritoras Suicidas , avisou-me há pouco que estou também lá . Feliz Ano Novo, Sil e Mariza Lourenço, criativas editoras!

Réveillon em Pirenópolis

Montes, árvores do cerrado. Todos os nomes de caules retorcidos; lixeirinha, orelha-de-negro, umburuçu, corda-de-viola; O verde explode, belo! Cachoeiras, águas serpenteiam arco-íris. Primeiro dia do ano em Pirenópolis e a lembrança de Jorge Luis Borges em São Paulo. Stephen Hawking e a música que colora a tarde. Música eletrônica entreluzindo 2008. A morenaluzbelavozdeusa: principesca : Maria Rita cantando Noel! A promessa de ler os dois livros do Raduan: Na primeira hora do ano Lavoura Arcaica e Um Copo de Cólera brincaram no trapézio da inquieta lembrança. Ano que vem de novo, sim.